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Família

  • Foto do escritor: Dra. Mônica de Lima Azevedo
    Dra. Mônica de Lima Azevedo
  • 14 de jun. de 2021
  • 6 min de leitura

O ponto de partida para o mundo!




1. A base de tudo

Juridicamente, a família é constituída pelo triângulo Pai – Mãe – Filhos. Social, moral e psicologicamente, é o grupo com o qual o indivíduo interage na infância e no qual ocorrem as aprendizagens perante as estimulações do meio social. A família é, então, a base para o desenvolvimento da criança dos pontos de vista físico, emocional, intelectual e sócio-cultural.

Os pais são os primeiros modelos afetivos que nós temos e a forma como as relações se estruturam condicionam o desenvolvimento de cada um. Uma família com padrões rígidos de comportamento pode provocar, nos seus membros, poucas condições de desenvolverem seu potencial humano. Outras, com vivência mais dinâmica, preparam pessoas mais integradas com meio em que vivem. Mães que fazem dos filhos um pretexto para manter o casamento criam indivíduos com um sentimento de culpa por alguma coisa que não fizeram. Por mais que a sociedade mude, por mais que os valores sejam repensados, a família ainda é a célula principal que vai se romper para permitir a saída do indivíduo para o mundo. Que ele pode estar preparado para enfrentar ou não.


A psicóloga Mônica Azevedo faz algumas considerações:

A vida corrida de hoje fez com que houvesse um afastamento em termos de vida familiar. Já não se convive tanto, como há algum tempo, com outros membros da família além dos pais e dos avós, por exemplo. O contexto social no qual a família está inserida mudou e esta alteração de valores não foi acompanhada pela parte emocional das pessoas, o que gera uma desestruturação, ou seja, uma insegurança na hora de criamos nossos filhos.”

Ela explica melhor: “a família cobra muito quanto ao papel social da pessoa, o que ela deve ou não fazer”. Casada, com uma filha de três meses, Mônica acredita que a geração que está entre os 30 e os 40 anos de idade quis romper todas as expectativas sociais, numa determinada época e acabou não fazendo nada do que era esperado pelos mais velhos. “E isso gera um grande sentimento de culpa”.

Para ela, houve uma virada de um extremo ao outro nas relações familiares, na busca do equilíbrio. “Isso é válido enquanto as pessoas estão rejeitando um modelo que não era o ideal, mas ainda estão buscando um outro que não existe”.


O pai e a mãe são os primeiros modelos que as crianças têm. Dependendo da forma como se relacionaram, eles podem ser seguidos ou totalmente negados. “A maioria das pessoas não querem ser como os pais, mas ao mesmo tempo não conseguem encontrar outro modelos para seguirem”. Por isso, ela acredita que está havendo uma volta, uma retomada na preservação de valores básicos que estavam sendo negados”.

Sair de um regime autoritário de família para uma liberdade excessiva não dá certo”, prossegue a psicóloga que vê hoje uma confusão entre liberdade e ausência de limites para as crianças. “Um pai omisso gera crianças sem referencial interno e externo. A criança precisa ser orientada, sentir que pode confiar e contar com uma pessoa que tem mais experiência. Este é o papel dos pais”.


3. Vínculos afetivos

Com a instituição do divórcio e a chamada liberação da mulher, o ponto de partida de constituição das famílias – o casamento – mudou em sua forma e conceito. Hoje, a própria formalização das uniões já é considerada tão importante e os casais mostram-se mais interessados na qualidade dos vínculos afetivos que nas garantias e direitos das mulheres e das crianças.

A legislação relativa à família está principalmente relacionada ao amparo à mulher e aos filhos”, diz a advogada e membro do Conselho Municipal da Condição Feminina, Franceli Lamas. O direito das crianças é garantido por lei, sejam elas nascidas de uniões livres ou de casamentos legalizados e existe até mesmo legislação específica para o chamado concubinato.

“Hoje a mulher se dá o direito até de ter uma união livre ou de se separar quando sente que a situação não está sendo satisfatória”, analisa a advogada. Ela contou que a maioria das separações, atualmente, ocorre antes de o casamento completar dois anos ou após os filhos estarem criados.


“Muitas mulheres que se separam depois de 15, 18 anos de casamento, confessam que viviam mal a relação conjugal há muito tempo, mas estavam mais preocupadas com os filhos. Já nos casais mais jovens, os filhos geralmente não são usados como pretexto para manter uma situação ruim”.

Nos primeiros casos os filhos crescem com inúmeros conflitos, conforme explica Mônica Azevedo: “A criança que se vê usada para manter o casamento dos pais recebe uma carga muito pesada, pois tem a incumbência de resolver um conflito que não criou. Ambientes hostis, indiferentes ou camuflados geram muitos problemas, principalmente no último caso, pois as crianças vêm uma coisa e ouvem outra. Recebem uma dupla mensagem”.


4. Mantendo a família

Será que a separação do casal leva à dissolução da célula familiar? Não necessariamente, embora seja uma coisa que aconteça em grande número de casos. A maior preocupação com relação aos filhos fica por conta da pensão a ser dada pelo pai, conforme consegue perceber Franceli Lamas na grande maioria dos casos de separação que passam por suas mãos.

“Muitas mães acham que receber a pensão resolve os problemas e os pais consideram que o fato de darem parte de seu salário para os filhos é suficiente”. Ela nota que há pouca preocupação com a dissolução da família em termos afetivos: “separação de um casal não implica em não haver mais relacionamento entre os pais e os filhos. Terminar o vínculo conjugal não significa terminar o vínculo familiar. Ele existe e existirá sempre”.

Por este motivo é que a psicóloga Mônica Azevedo alerta que os casos de separação devem ser bem elaborados para que as crianças ou adolescentes possam vivê-los de uma forma natural e continuarem a te os dois modelos básicos: o pai e a mãe”. Embora seja uma experiência sofrida para os filhos, o afastamento dos pais sem rancores faz com que eles não percam o contato com a realidade.

Esta opinião é ratificada por Franceli: “É preciso esclarecer que a separação não significa o fim do relacionamento”. Ela chegou a fazer uma pesquisa – empírica, porém válida – com adolescentes, filhos de casais separados que se recusam a pensar em casar algum dia. “Para eles, o casamento é instituição falida”.

Ambas concordam, porém, que existem casos em que a separação é a única alternativa, “se não existe mais possibilidade de um bom relacionamento entre o casal, que é muito diferente entre pais e filhos. Este pode, inclusive, melhorar em qualidade”, diz Franceli. “Quando a criança serve de instrumento de agressão recíproca entre os pais, ela acaba somatizando o que sente, sem conseguir expressar, e isso resulta em diversos distúrbios como de sono, de alimentação, enurese e outros”, completa Mônica. Outro aspecto importante é o objetivo do casamento. “Hoje ninguém mais casa pensando apenas em procriar. O papel da mulher mudou muito. Ela não vive com o objetivo de ser somente mãe e esposa” diz Franceli . E se acontece de a mulher ter um filho num momento em que não se sente disponível para a maternidade, as consequências para esta criança podem ser graves.

5. Cada um é único

Outro problema sério nas relações familiares é o da individualidade. Há uma verdadeira invasão, pelos pais, na individualidade dos filhos que, ou se revoltam para reivindicá-la – e aí são considerados rebeldes – ou passam para uma atitude de passividade perante as coisas. “Viver junto é praticar o exercício de conviver com a individualidade dos outros”, diz Mônica Azevedo.

Normalmente, em famílias numerosas, existe uma indiferenciação entre os filhos: todos são criados do mesmo jeito, sem levar em consideração as particularidades de cada um.


Este tipo de atitude não ajuda as crianças a desenvolverem seu referencial interno. Cada um responde ao mesmo estímulo de uma maneira diferente e por este motivo também não se deve fazer comparações entre as crianças. Cada uma precisa ter consciência de sua importância e do seu espaço”, analisa.

Por outro lado, pais muito perfeitos podem criar filhos com sérios conflitos. “Há crianças que querem ser perfeitas porque acham que só assim serão amadas e, como nunca conseguem alcançar a perfeição, ficam deprimidas e podem ter sérios problemas de relacionamento com outras crianças, que só querem ser crianças”, explica Mônica.

As pessoas reproduzem fora de casa o que vivem dentro dela. Famílias dinâmicas, com um relacionamento franco e aberto criam pessoas mais sadias, livres para tomarem atitudes e com fácil adaptação ao meio social. Se existe uma troca, principalmente afetiva, empobrecida no nível familiar, a tendência é a criança se fechar ao entrar em contato com o meio externo.


6. Repensar

As relações familiares são bastante complexas. Os valores de convivência e de relacionamento estão sendo alterados pelas próprias mudanças na estrutura social. Mas a célula familiar permanece e ninguém pode negar que o que somos hoje depende muito daquilo que fomos em criança e da forma com que nossos pais nos apresentam a vida. Existem muitos aspectos a serem considerados além destes. Vale repensar. Vale analisar e procurar melhores caminhos para uma relação mais dinâmica, mais verdadeira e mais feliz.


Publicado na Revista Viver Integral em janeiro de 2011.

 
 
 

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Dra. Mônica de Lima Azevedo - CRP 06/176626

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